Roger Marx é
um tatuador paulista, nascido em 1980. Com 20 anos de idade, abandonou a
faculdade e mudou-se para os Estados Unidos. Em janeiro de 2001
retornou a São Paulo, e, aos poucos, a ideia de tornar-se um tatuador
profissional foi amadurecendo. Após isso, abandonou o ramo do design e
ilustração para se dedicar exclusivamente a esta arte.
No ano de 2008 o tatuador abriu seu próprio estúdio de tatuagem.
Roger passa alguns meses por ano em Los Angeles, trabalhando e
aperfeiçoando-se em estúdios locais, mas seu endereço fixo é no
Guadalupe Tattoo, localizado no Nimbus Studios,
em São Paulo. Roger também já tatuou pessoas famosas, como integrantes
da banda Guns’n’Roses. Confira, a seguir, a entrevista !
- Por que decidiu começar a tatuar?
Porque precisava de um oficio para pagar as contas. A música, além de
prazer, só me deu gastos na vida. Tentei, por 15 anos, ser músico, e
sempre fui ligado ao mundo da tatuagem como admirador e colecionador de
desenhos em minha pele. Mas chegou um momento em que tive que me virar, e
tudo aconteceu naturalmente. Quando vi, já estava tatuando e ganhando
para isso. Meu amigo Joe Klenner (dono do Inferno Club, na rua Augusta)
foi quem me deu a minha primeira máquina, e, logo em seguida, comecei a
fazer tatuagens em mim mesmo.
- O que te inspira profissionalmente? Por exemplo, existe algum tema específico que você prefira tatuar?
Arte, no geral, me inspira. Desenhos, quadros, filmes, música, shows…
tudo o que é relacionado à arte e suas vertentes. Acredito, também, que
recebo inspirações cósmicas vindas de todos os cantos desse planeta e
de outras dimensões distantes. Adoro tatuar coisas relacionadas a música
também. Capas de discos, logo de banda, instrumentos etc. Também me
sinto honrado quando um cliente me pede para reproduzir algum quadro de
que gosto. Já fiz Van Gogh, Dali, Bosch, Basquiat, Mark Ryden, Da Vinci,
Magritte e Tara Mcpherson, entre outros.
- A profissão é mais valorizada no Brasil ou no exterior?
Quem faz a profissão é o profissional. Se você realmente colocar seu
sangue e amor no que está fazendo, você sempre será valorizado. Em todos
os ramos existem bons e maus profissionais. No Brasil, a tatuagem
cresceu muito nos últimos anos. Quando comecei a atuar, há quase dez
anos, não tinha metade do material (tintas, agulhas descartáveis e
máquinas) que temos hoje. E o material que existia ainda era muito mais
caro e de difícil acesso. No Exterior, a variedade de materiais é muito
maior do que aqui, e a mídia é muito mais forte e de qualidade (reality shows
e revistas). Mesmo assim, o Brasil tem diversos tatuadores muito bons,
entre os melhores do mundo, eu diria! (e que fique claro que eu não me
incluo nesse grupo)
-Existe uma técnica em especial que prefira usar?
Não. Nada específico ou especial. Só existe uma forma de aprender
algo: errando! Eu errei no começo, aprendi o que NÃO fazer, aprendi
fazendo e observando. Tento mesclar todas as técnicas que aprendi no meu
estilo. Sempre tento aprimorar observando as pessoas trabalhando
(melhor ou pior do que eu). Gosto muito de trocar experiências e até
mesmo de ensinar o que eu sei. Sempre aprendo quando ensino.
- Conte sobre o primeiro trabalho que você realizou. Em relação à expectativa, nervosismo. Como foi lidar com isso?
O primeiro trabalho foi em mim mesmo, no pé. Uma caveira de pirata.
Fiz sem decalque (porque não sabia que isso existia) e pintei com a
agulha de traço (também não sabia que existia agulha de pintura). Bom…
ficou uma merda! Mas tenho a tatuagem até hoje. Não penso em cobri-la e
me orgulho de ela ser horrivelmente tosca. Nunca fiquei nervoso para
tatuar nada, mesmo no começo, quando dava errado, e eu não sabia muito o
que fazer. Sempre acreditei que ia dar certo, até que uma hora começou
mesmo a dar.
-Você se encontra realizado nesse meio?
Sim! Trabalho com o que eu gosto e da forma que eu gosto! Faço meu
horário, tenho abertura para viajar quando quero e ficar quanto tempo
eu quiser. Sou meu próprio chefe… o que mais posso querer? Dinheiro? Ah,
ganho o suficiente para pagar meu sorriso. Poderia até ganhar mais, mas
ganância é uma coisa que não tenho. Às vezes um sorriso de gratidão do
cliente vale mais do que dinheiro pra mim. Gosto de ver as pessoas por
aí com minhas tatuagens. Desse modo, vejo um pouco de mim nelas.
- Como foi o contato e o trabalho em pessoas famosas? Explique a diferença.
Por vir do mundo da música, conheço muita gente do meio. Meu estúdio,
por exemplo, fica dentro de um estúdio de música, o Nimbus. É um
estúdio grande e conhecido em São Paulo, por onde a maioria das bandas
passa, seja para gravar ou ensaiar. Tatuei bastante gente famosa, como
Phil Anselmo (Pantera/Down), Scott (Face to Face), Alex Laiho (Children
of Bodom), Zakk Stevens (Savatage), Tracii Guns (LA Guns/Guns n’ Roses),
todos da banda Faster Pussycat, Maya e Alisson (The Donnas), Jeff Rouse
(Duff Mckagan’s Loaded), Alex e Moises (Krisiun), o cantor Otto, entre
outros!
Mas não costumo ir atrás de famosos assim, apenas acontece! As únicas
vezes que fui atrás de alguém para tatuar, no caso, Dave Grohl (Foo
Fighters, ex-Nirvana) e Axl Rose (Guns n’ Roses), não deu certo. O Axl
eu cheguei a conhecer e conversar pelo menos, o Dave nem isso. Fui
chamado para tatuar o Slash também nessa sua última passagem pelo
Brasil, fui até o local do show (Espaço das Américas) com todas minhas
tralhas, ele passou o som e veio falar comigo: disse o que queria e que
talvez fosse fazer a tatuagem… daí foi atender fãs, jantar, fazer
massagem e eu, bem, estou esperando até agora ele decidir!
- Qual o significado das suas tatuagens?
Tenho tatuagens que remetem a um momento, um estado. Outras, a uma
fase da minha vida, a minhas crenças, e algumas não têm significado.
Tento contar minha história de vida no meu corpo. Tenho desde as
assinaturas dos meus pais e avos a logos das minhas bandas preferidas,
passando por deuses, santos e flores! Uma mistureba…
- Sua família te apoia?
Quando comecei a me tatuar (antes de tatuar as pessoas) meus pais não
gostavam. Sempre criticaram, aliás. Mas, independentemente disso,
sempre me apoiaram e nunca me recriminaram. Sempre me aceitaram como eu
era, mesmo não gostando. Quando eu decidi tatuar os outros, eles foram
os primeiros a me apoiar! Meu pai sempre me ajudou quando eu precisei.
Uma vez fui assaltado e roubaram todos os meus equipamentos. E eu não
tinha o capital para recomeçar. Daí tive que recorrer ao papai, que não
pensou duas vezes em me ajudar. Agradeço muito a ele por isso, pois não
conseguiria chegar aonde cheguei sem eles.
- Tem algum conselho a quem está começando a entrar nesse meio?
Sim. Primeiro: não ouça quem diz que você não é capaz ou “que não tem
jeito pra coisa”. Use isso como incentivo e mostre para todo mundo o
quanto eles estão errados. Uma vez, um “profeta” me disse: Só sendo
louco para tatuar com você! Bom, graças a Jah, encontrei diversos loucos
pelo mundo!Aliás encontrei mais loucos do que pessoas “normais”.
Já pelo lado prático, uma coisa que me ajudou muito no começo foi
refazer tatuagens. Todo mundo tem amigos que têm tatuagens toscas,
coisas que nem se você quiser consegue piorar. Eu aprendi muito
refazendo tatuagens, aprendi como os tatuadores faziam, aprendi
aplicação, sombreamento e treinei fazer linhas firmes. Não cobrava nada
dos amigos, mas ganhei algo mais valioso que dinheiro: ganhei o
conhecimento.
- Quais são os planos futuros? Pretende continuar no Brasil ou fixar residência no exterior?
Meus planos são tatuar cada vez mais e melhor. Evoluir como pessoa e
como profissional a cada dia, ate meu último dia, seja quando for. Quero
fazer intercâmbios sempre que possível, uns mais demorados que outros.
Adoro conhecer outras culturas e ver o mundo, mas minha residência é e
sempre será no Brasil. Amo meu país e quero melhorá-lo como posso e não
abandoná-lo.
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